quinta-feira, 17 de março de 2011

Voa

Vou fazer uma reza, uma macumba ou qualquer outro feitício que pare essa coisa desenfreada dentro de mim que chamam coração. Cansei. Coisas voláteis cansam...

terça-feira, 15 de março de 2011

Vaz...

Coração vazio... vazio... Amém!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Vestido vermelho

Então eles decidiram. Claro que havia medo, mas havia mais presa. Ela o estava esperando, ele se estava esperando. Fazia tempo que não cuidava de si, fazia tempo que não sorria. Evitou durante muito tempo se separar, evitou-se muito tempo. Agora era obrigado a resolver. Ele, ela. Vestiu-se, com o que ficou de herança e foi com seu vestido vermelho para a zona. Todos os dias novos clientes. Via-se neles: infelizes, casados derrotados. E assim achava que iria resgatar aquela felicidade que não sentia há tempos. Vestiu-se com sua tristeza e foi ao bar: amigos reclamando, bebida quente, tudo sem gosto, tudo com gosto de cigarro. Vestiu-se e foi ao velório dela: olhares de culpa, cheiro de suor, clientes medrosos. Pediram um discurso, talvez o irmão bêbado, talvez a mãe tão dopada que nem o viu vestido daquele vermelho, que um dia tinha sido seu presente de noivado para ela. Falou sem parar. Falou dele, dela. Falou dos clientes. Falou tudo que sabia e sentia antes de se jogar daqueles sete metros acreditando que salvaria sua vida. E riu. Riu desesperadamente até que o calassem com o monte de terra. Morreu feliz, diziam.

terça-feira, 1 de março de 2011

Olhos tristes

"Olhos tristes" disseram. E eu não o via assim, apenas via aquele sorriso contido e uma enorme vontade de ser livre. Pensativo, analisava sempre ao falar e eu me perguntava se era por isso que se tornava tão interessante. Passei horas o olhando de longe, passei a segui-lo todas as manhãs após o encontro no elevador. Todos gostavam dele. Peguei-o com um livro de inglês. Era o professor do curso ao lado. Professor dos olhos tristes diziam. Eu não o via assim, via uma delicadeza e uma enorme vontade de ser livre. Fui entrando na sua vida e quando vi já fazíamos jantares e passávamos noites rindo contando casos. Chamei-o para ser meu, para ir comigo além dessas fronteiras abafadas, que onde eu ia havia liberdade. Foi. Fomos. E seus olhos brilharam tanto ao ver o outro lado que sem querer eu pensei "ele tinha olhos tão tristes antes de mim".

Rumo

Muito fácil ir embora se deixa em minha fronha seu cheiro misturado com o suor de nossa noite. Fale ao menos que vai voltar, que foi bom, que será pra sempre e que tudo está resolvido. Dois anos se passaram e ainda espero entender por que, por quem... quem te levou de mim? Fico te procurando nos parques, nos cinemas, nas esquinas e nas madrugadas. Sei que vai voltar arrependida depois de viver todas as futilidades que buscava como salvação. Não nos salvamos. Mas ainda é tempo, ainda há tempo. E, por mais que não acredite, ainda há salvação. Deixe o medo, a vergonha, a vaidade e todas essas suas questões existenciais de lado e venha. Venha porque ainda há amor, porque lavo suas roupas toda semana e guardo seu chinelo ao seu lado da cama. Venha porque ainda desejo tanto, mas tanto aquele abraço apertado no meio da noite chuvosa enquanto falo para você desse meu dia chato meu dia quente meu dia estúpido e cheio de gente fútil e falo antes de sentir sua mão fugir do meu corpo que é bom tá com você que é bom ter você e repito ao cair no sono que quando acordar vou tirar a manhã de folga. Sonho com planos enquanto você vai.