segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Vinha puro...

Braços fortes e um olhar perdido. Atravessada a rua trôpego e olhava-me com carinho. Via meu temor, meus cuidados excessivos. Era puro e não contava com a maldade que estava por vir. Ião machucá-lo, com certeza. Acreditava em tudo e tinha um sonho impossível. Puro. Cheirava a bebida. Dei um banho frio e esperei acordar para uma ressaca de arrependimentos. Estava entrando no mundo perdido. Tão impuro estava se tornando... Não demorou para as agressões acontecerem. Eles nele, ele em mim. Um dia, tão cansado, machucado e arrependido estava que não acordou. Disse que ia ficar lá, naquele lugar calmo, sentindo ainda o corpo gelado do banho que eu havia dado. Disse-me que não ia acordar, que ia ficar lá para mim, para me ser puro. Disse que não ia acordar. Ia ser puro. Puro. Ele era tão puro. Mas disse que não ia acordar. Acorda puro. Puro, acorda.

Encurta-me

O tempo é curto,meu amor, eu sei. Mas prometo manhãs com beijos intermináveis, prometo que vou ligar todos os dias para dizer "te amo" e você vai passar um bom tempo achando que não fui. Provavelmente irá fazer jantar para duas e antes de pegar no sono irá falar bem baixo "apaga a luz", enquanto eu durmo de luz acesa. Quarto claro para me acostumar a essa nova vida sem você. E vou prender o choro e a dor ao me despedir. Tudo estará bem, eu estarei bem e você dirá que está me esperando. Mentira, nós sabemos. Mas agora é o nosso alimento. Anos atrás trazíamos malas e esperanças. Levo-as comigo. Deixo-te. Sofro-me. Sofra-se. Mas há esperança. Esperanço-me. Esperança-te. Espere. Espere-me. Quem sabe o tempo será curto, meu amor...

Esperamor

Estava chegando a conclusão de que o amor não existia. Não para ela que andava tão magra e frágil. Sempre com as mãos nervosas, suadas. Agora deu para andar com um lenço escondido em sua bolsa furada. Às vezes, deixava aparecer o quadriculado no emaranhado de bolinhas. Quase sempre molhado de suor. Andava melancólica e sem amor. Todas as tardes ia na fonte da praça próxima a sua casa e jogava uma moeda que tinha sido o troco do ônibus. Todos os dias descia no ponto, ia até a fonte, jogava a moeda e pedia: "Se o amor não for sorte, aqui está uma parte dele". Só assistia filmes de amor, comprava maçãs coloridas e algodão doce nos parques e sorria para qualquer casal que transbordasse qualquer tipo de alegria.
Foi chegando a conclusão de que o amor não podia ser comprado... Juntou o troco e comprou maquiagem, fez jantares caros, comprou sapatos novos e andava desfilando. Mas não sorria. Nem achou o amor. Então chegou a conclusão que não deveria esperar. E então o amor não chegou, nem doeu.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Eu sou mim

Mas me diga que medo é esse que lhe impede, que me repete. Não o tenho, meu amor. Juro que estou livre desses temores inoportunos que só me faziam estagnar. Passei a querer mais, passei a querer sempre algo melhor. Porque tudo é muito curto e tenho um desejo incontrolável. Porque me perdoei, porque passei a caminhar com leveza, a sorrir sem força e a temer menos. E agora, estou passando para a nova fase do "reconhecer-se". Dói. Não vou mentir que às vezes dói. Mas não me canso, não me entrego como você. Não desisto de mim ao me ver tão perdida. Só descobri que não acharei em você o que ando procurando em mim, para mim. Luz apagada, pocket na bolsa, horas de caminhada com ipod, um minuto, nenhum cigarro, escolhas, doces, carimbos, silêncio... ah, quanto silêncio cabe em mim? Ando tempestade, ando maresia. Incontrolável. Insaciável. Não vou te achar entre tropeços e corridas para ônibus, não vou te achar numa linda tarde de Outono, não vou lhe achar...Ache-me, agora, se quiser. Se estiver procurando as mesmas coisas que eu, a mesma paz, se puder contar além do que eu enxergar em seus olhos. Porque não quero mais essa coisa pequena, esse pedaço, essa metade mau partida de você. E repetirei todas as manhã "não quero mais" "não, quero mais" "não quero, ma(x)s..."